segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Micro contos - Sozinho no além na beira da Lua

Do alto, perdido como o logo da Dreamworks, ele via toda a sorte de pessoas que se esgueiravam pela rua. Ali estava sentado bem na beiradinha quase pra cair, meio lírico, meio irônico, um escritor com asas seria uma visão muito romântica e ele era no fim de tudo um cínico e um cético. Ela andava por lá, escrevendo outros nomes, outros poemas usando os livros dele como suporte. Deveria sentir-se azedo, mas era quase leve, finalmente era uma nuvem. Às vezes resmungava uma ou duas músicas que o fariam relembrar alguém, mas era sempre um pronome, não um nome, não um corpo. Era uma ausência, uma sensação e não um gozo. Ali, na beira da Lua queria ainda ter o RG, para poder picota-lo e fazer chuva de si. Mas há muito já não estava em si pra renegar a identidade. Saltou num giro no ar, e quase numa pirueta espalmou nuvens e pedaços de memória. Ainda que sozinho e relativamente morto, estava feliz. Não haveria mais sobre si o peso de uma manhã sem sonhos. Havia para si um pedaço do céu onde ele poderia escrever todos os livros dos seus sonhos. Da beirada da Lua chutou um resmungo e seguiu com as mãos enfiadas no bolso das calças.

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