sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Alex e a interminável manhã

Deitou em sua cama ainda quente de uma noite sem sonhos. Deixou que a prosa enviasse recados. Mudos. Aos seus sentimentos ressentidos. Fluídos. Que nunca secavam na memória. Deitou na cama ainda úmida de seus retornos. Adornos. Para uma política social pouco palpável. E muito dolorida. Dentro de si a infecção sem sabor nem cheiro da adrenalina. Veias reposicionadas. Cabeça arqueada no travesseiro branco. Da janela apenas uma nesga de sol confuso, que nem chegava a ser amarelo. Fincava pé no gelo e no vazio. Não aquecia. Ventava. Uma ponta de cortina se erguia e ondulava. Num movimento lento. Quase poema. Deitado ali apenas de bermuda fina, quase esporte. Quase morto. Quase pouco pra sua idade. Quase rouco além da retina que brilhava. Metamorfoseava o ar em novas ondas e deixava seu corpo em apuros. Vento. Pele. Resquícios de ar que se embaçavam nos vidros. Não mais. Era tão só ao seu lado. Deixava a pele branca desaparecer, não fossem seus olhos escuros se diria um fantasma. Assombração desinibida esquecida sobre uma cama de hotel. Mas se não fosse sua a cama, nem seu o sentido e a sensação de perda, se pensaria morto. Mas o peito insistia em expulsar e amolecer o ar dentro dos alvéolos.

Naquela manhã quisera dormir mais um pouco. Esquecer que não haveria ninguém para preparar o café e que seus passos ecoariam como nunca na casa vazia.

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