terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quando brotaram estrelas no fundo do mar
(I’m a lonely boy in deep of the ocean)

Eu sou um garoto solitário no meio do oceano. Preciso matar. E preciso morrer. Preciso de todas as coisas extremas e intensas no meu sangue. Sou um garoto deteriorado no meio do oceano. E eu tenho uma vida básica. Eu me sinto como uma concha abandonada. Onde eu fui parar? E todo aquele romance? E toda aquela lascívia? Eu cresci e me esqueci acolchoado debaixo da cama.

Deitei no meio da areia funda e úmida e gritei até meus pulmões se encherem de água. Sonolenta água experimentando um pouco da minha veia, da minha goela da minha voz atravessada por peixes multicoloridos, algas, gemidos, fremidos gelados. Não consigo me afogar, por mais que tente, não consigo afundar. Por mais que tenha uma pedra no peito, não consigo encontrar abrigo ou paz no fundo desse oceano. Não consigo dormir sem me perder. As mãos sentem-se sozinhas. E mesmo quando o delírio tenta preencher uma lacuna qualquer e um murmúrio sobe aos lábios, é frio. É vago. É rápido. Como uma música perdida numa rádio. Petit Prince. Um avião sonolento dentro do peito, uma turbina que não funciona e lá se vão minhas emoções e eu perdi meu cartão telefônico. E uma turbina que não funciona e faz um ruído no meio da noite incomodando as marés e as estrelas e as tristezas. Ficou cristalizado dentro das cordas vocais. Além de qualquer expressão. Tudo que sai daqui é lixo. O que realmente presta dorme. Eu sou um garoto dormindo no meio do oceano, não sei se já disse, mas é bonito ver a lua daqui do fundo a noite. Ela ganha uma capa azul escuro. E fica diluída em linhas fluídas. Daqui do fundo ela fica assim, quem sabe hoje eu consiga dormir e não sinta tanto frio. A areia entre os dedos do meu pé. Quem sabe não seja tão óbvio. Quem sabe eu possa ver um corpo cair no mar. Quem sabe eu possa ver uma pedra fisgar a nádega de uma onda. Eu vi um pássaro fazer seu último rasante da noite.

Eu sou uma espécie de carícia esquecida no fundo de uma pedra. O bruto escondido dentro do coração. A malha de metal antes da forja, mas eu me jogo no fundo do oceano pra me esquecer de toda a forma e toda a folha e toda a fome que me percorrem quando meus alvéolos tocam a superfície. Mas... eu não consigo me afogar.

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