Solo
cantado em solo
ardendo em polos
opostos
o vento corta o rosto
em dobras
e faz das mãos
portas
para toda a ansiedade
que impede o riso
Em meio aos deslizes
em meio a tanta retórica
eu hoje nada faço
senão deitar-me em letras
forrar-me delas
vomita-las
agredi-las
usurpa-las
e eu que não sou de letras
caio num resquício
e eu que não sou de perdas
delineio precipícios
Não me cansa o ritmo da caça
cansa-me a inconstância
as letras fogem, sobem
se matam
dentro da minha cabeça
Solo
num solo
de baixo
me desmancho
no frio das mãos
os calos
da saudade adulterada
e do amor expandido
pela cidade cinza e enevoada.
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