sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um pedaço do sol preso na vidraça

Eu não aguento. É mais forte que minhas mãos, meus medos, meus anseios. É mais tenso que o ferro quente dobrado na máquina. Eu tenho essa sede que não consigo aplacar. Esse fogo que não para de queimar. Essa vontade de explodir e deixar meus fragmentos pelo ar. De me espalhar por narinas, espaços, seios, pássaros, paredes, necróterios, sorrisos, infernos. Por todos os lugares. Eu tenho essa coisa dentro de mim que não quer acalmar, essa insatisfação de querer e não ter. De tentar transformar o espaço. Os seus abraços. Os meus olhares em cartazes. Eu deixo as minhas linhas na porta da sua casa, deixo apenas tênues mesuras de cabeça, minhas mãos nuas explodindo de paixão. Sem ter vazão. Apenas corpos passando por mim sem reter a saliva. Apenas palavras me corroendo como ratos. Esse desejo constante de mudar o rosto que me agride, essa ânsia por deixar a loucura que me habita correr pela rua sem aviso. Está tudo tão represado aqui dentro. Escorre pelos meus olhos mudos, pela minha procura, pela minha raiva inventada. Pelas palavras acres recheadas de pedidos de desculpas. De coisas cheias de outras coisas. Eu nem mesmo quero ouvir essa sensação que fica oscilando aqui dentro. Por vezes quase prenso na parede os seus olhos pra me por dentro das suas retinas. Por outras me ponho nas sombras dos seus sapatos, em noutras nem sequer lembro de que havia alguém. Descobri um ponto em comum entre nós, a obsessão. Perversa, adorada, sensorial. Mas a mim já bastava o que eu tinha e que por uma bobagem se perdeu. Se perdeu? Eu não sei. E essa dúvida ( que você insiste em não retirar de mim) fica me doendo a cabeça. Mas não aquela dor que paralisa, mas aquela que come o sorriso pela beira.
Eu vou explodir como um sol um dia desses, me queimar e me devastar no meu mundo, dentro do amor que se encarrega de me adormecer e me acordar com doses fartas de megalomania em alguns momentos. E mesmo assim, a loucura desses atos e desse meu jeito, não é nada. Não é amor. Não é algo físico específico, é uma coisa estranha, uma admiração. Uma coisa que não tem nome no dicionário. ...

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