quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Alexia e os móveis

Poderia tecer um intestino tentando capturar todas as histórias que gostaria de te contar. São todas inventadas, porque, você sabe, aqui na minha vidinha, não acontece nada. Aqui o tempo para, tosse, escarra e continua seu caminho. Ele esquece que por aqui também há relógios. Biológicos e mecânicos. Mas o que se há de fazer? Mandar uma carta de reclamação?

“caro senhor tempo, venho por meio desta, reclamar de seus serviços, aliás da falta dos mesmos, o senhor se esquece que aqui por essas paragens onde resido, também o tempo deve correr. Será porque não há uma rede de fast food em minha região que não somos considerados civilizados e por isso indignos de seus serviços? Espero que mude sua postura.
Cordialmente
Alexia Correia”

Creio que a carta pararia na recepção da vida, atolada até as portas de tantas outras milhões de cartas semelhantes a minha. Mas enfim, a gente faz o que pode não é? A gente tenta. Mas ah, me perdoe, me perdi em reflexões. Tenho muitas histórias pra te contar, muitas mesmos, sobre um escritor, um homem estranho, aliás muitos homens estranhos que passaram por aqui e sobretudo de umas mulheres com cara de pastel que aportaram alguns dias aqui na cidade. Você deve rir do meu jeito, não se incomode, não é uma censura, todos riem. Até eu. A gente faz o que pode para passar as horas por aqui. Até rir um pouco das nossas idiotices, que você sabe, depois de um tempo, até as coisas da casa adquirem um pouco da nossa cara e dos nossos tiques. É sério! Ontem mesmo, minha escrivaninha teve um longo ataque de bico de papagaio, ficou curvada por horas a pobre, e por um tempo não pude escrever. A coitada tremelicou feito vara verde. Cogitei a idéia de levá-la ao médico, mas ela é muito teimosa, e preferiu ficar lá amuada no canto. Às vezes não agüento essas birras dos meus móveis. É sério, eles me levam a loucura. Nessas horas acho até um pouco bom não ter muita gente por aqui. Teria uma ataque se houvessem outras pessoas tendo ataques....mas ela já está bem. Não se preocupe, ela está bem. Passei a noite inteira ao sei lado. Cantarolando. Você deve estar ocupada e essa carta já se estende muito. Outra hora lhe escrevo para contar as novidades daqui.

Abraços
Alexia

PS: você não se incomoda com as minhas cartas não é mesmo? Não? É que, aquela mesa de jantar linguaruda, andou falando que você não responde minhas cartas porque não quer, eu sei que você deve estar muito ocupada...mas escreva quando puder, estarei aqui esperando...

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