sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Encanadores também sofrem de amor

E eu limpo minha bunda com cartas de amor. Toda manhã eu retiro uma das folhas do caderno que era seu e limpo minha bunda com as suas palavras. Vejo pela descarga descer em espirais de água suja os sentimentos alfabéticos da nossa canção. Vejo a janela e vejo a chuva. Eu tenho um cachorro chamado Hell e eu o mato todo dia pela manhã, depois de limpar a bunda com as suas cartas. Ele é o meu Abel. Mas ele é de pelúcia, me divirto em arrancar-lhe a cabeça de modos diversos e depois remendar com linhas coloridas. Ele parece um arco-íris sentado ali na quina da janela. Ontem eu arranquei sua cabeça usando o batente da porta, anteontem com uma faca de cozinha torta. Hoje eu ainda não me decidi. Suas páginas estão acabando. O Abel que é Hell não agüenta mais, sua cabeça marrom pende ora para a direita ora para a esquerda. O que eu vou fazer quando essas coisas forem embora? Só me restará me jogar fora também. Me dar descarga junto com toda essa merda. Porque o amor é uma bosta.

2 comentários:

  1. Adorei, adorei!!
    Vamos fazer um curta disso??

    ResponderExcluir
  2. Caralho heim Cris! Que texto fodido de lindo!

    Pq não quadriniza isso Amorim???

    Beijucas!

    ResponderExcluir