sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

The Yes boy

Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Ele disse sim para tudo. Para as multas, advertências, incongruências, convites, piadas, ressacas, mulheres, deveres, empregos, senzalas, engarrafamentos, impostos, tendências, ausências. Concordou com tudo. Até mesmo se lhe agendassem a data da morte, diria sim. O que deveria comer, como deveria se sentar, onde deveria ir, o que era conveniente e o que não era de dizer. De sentir. As formas de amar, as posições, a minutagem, os filmes da revista da folha, as coisas boas, os lugares interessantes. Disse sim a todos os instantes que roubavam sua juventude. Disse sim aos dementes que exploravam seus talentos. Disse sim a inércia que lhe comeu as mãos, pensamentos e projetos. Disse sim ao mundo. Deu aval para o tudo que quisessem. Mas nunca ao que ele quisesse. Nunca disse sim para si mesmo. Nunca teve consciência de si. Era apenas um sim. Um doce corpo definhando na memória da infância cheia de sonhos, de futuros brilhantes, de pedidos de seja sempre assim. E ele era, dia após dia, o mesmo. Consumido num marasmo, num sorriso sempre branco e aberto na mesma altura do rosto. A mesma quantidade de carboidratos no almoço. Um gentil moço. “Esse é pra casar”. Tinha quarenta e sete anos e ainda era solteiro. Mas não se queixava. Jamais. Era gentil. Era um simples sim ambulante. Mas dentro da sua cabeça às vezes, lá nas gavetas do fundo, aquelas que costuma guardar furacões, ficavam algumas obediências também. Mas ele nunca as colocaria em prática, elas nem mesmo subiriam algum dia aos seus lábios sorridentes. Vamos fugir? Vamos pular de uma ponte? Vamos nos jogar na frente do metrô as seis da tarde? Vamos estilhaçar a janela daquela cretina do décimo terceiro andar? Vamos mandar aquele chefe escroto passear? Vamos mandar essas mulheres que dizem “é pra casar” pra puta que o pariu? Vamos explodir a Times New Roman? Vamos dançar pelados na posse do Obama? Qualquer coisa absolutamente insana?
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Um gentil rapaz como sempre. Condescendente com tudo, até com seu lado escuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário