quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O homem da janela de plástico

O futuro promissor ficou preso numa teia de aranha, acanhado num riso sem graça. O futuro promissor daquele homem parece distante a cada ano. Ele tinha vinte e cinco. Ele tem trinta e dois. E o futuro promissor continua lhe escapando entre os dedos, mas a verdade é que ele não se esforça muito pra agarrá-lo. Não faz força, espera que pouse em sua palma e ali fique delicado. Ali sentado por horas a fio rabiscando o mesmo caderno há mais de oito anos. Um caderno simples de 96 folhas, com espiral, que em oito anos não esgotou suas páginas. Seus escritos eram muito pontuais, donos de um estilo muito particular. A cada dia ele anotava uma palavra em um pedaço da folha. Na espera que o inimaginável batesse a sua porta. Como se um Peter Pan fosse arrancá-lo daquele marasmo e das teias de aranha e das bolas de poeira dentro da boca. Ele esperava e dentro da sua cabeça todas as coisas eram possíveis. Ele se via rodando o mundo com suas letras, dando voltas em reis, presidentes e lideres tribais. Via os rostos brilhando quando passava. Via. Revia. Antevia. Entrevia. Sofria de artrite. De tendinite nas duas mãos. De dores na coluna que por vezes o igualavam à um viaduto. Arco turvo dentro dos olhos perdidos. Via-se ali impossibilitado de sair. Mas via-se assim mesmo louvado. Mesmo ali dentro de um porão escuro, ali escrevia suas letras magistrais e via o mundo original por uma fresta da janela, que já não tinha vidro. Há muito havia se partido. E sem o dinheiro que ainda não vinha, mas viria. Remendou-a com uma sacola de mercado. Ficava ali vendo então, o mundo por um saco plástico do Carrefour. Na espera de um futuro promissor que já era um passado morto há muito.

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