terça-feira, 12 de maio de 2009

Parte IV

Nojo de mim, dos meus desejos sujos. Das minhas cartas obscenas. Papai me disse que é errado, por isso ele jogou meus dentes pro alto. Por isso ele tingiu o amanhecer de vermelho usando um garfo. Era pro meu bem, era pra entender que meus desejos são sujos. Que é errado. Papai é certo. Ele é católico, gordo, velho e usa camisa listrada de manga longa. Meus pensamentos são sujos, eu sou um tipo estranho. Disseram que eu era um tipo estranho desde que eu era pequena, faziam graça comigo, porque meu pai ia me levar na escola. Todo dia. Eu era um tipo estranho e tive pensamentos sujos. Escrevi cartas pesadas e alisadas. Fiquei na porta da sala escrevendo bilhetes pra ela. Passava de mão em mão e ninguém lia. Papai abriu minhas gavetas e achou. Estrelas contadas do avesso, Polock fazendo graça no meio da cozinha. Papai era Polock eu era o balde de tinta. Papai me jogou, fez happening.

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