sexta-feira, 29 de maio de 2009

Quando o mês de maio espirra e expira

O mês estertora seus dias finais. O frio consome as horas numa epidemia de tristeza mal adensada. As listas permanecem cheias de afazeres coladas as paredes, que nada mais dizem a respeito desse vazio. Não reclamam a cor como companhia e descrentes expiram em rebocos assoviados pelo chão. Pedaços de tempo esmurrado corroendo o chão e qualquer outro espaço. Tudo fica por demais pessoal. Tudo fica por demais casual. Efeito redobrado de ausência. Fiz todas as coisas que poderia e não poderia. Deixei que uma rodovia fosse construída entre eu e o resto do mundo. Larga. Vasta. A vista não alcança o fim. Deixei que a lua respirasse da minha aspereza. Deixei a destreza aos cães,que melhor sabem usá-la. Tento de todas as formas domar minha pistola que dispara a esmo mesmo cobrindo-se de cansaço e ferrugem. Mesmo não tendo mais alvo, mesmo que esse alvo conclame a distância intransponível de um silêncio como salvação. Eu quero pegar o trem para nowhere. Me misturar com as partículas de poeira, transformar-me em pedaço de sujeira e jorrar pelos poros das estruturas. Puro carbono impregnando a pele dos prédios. Todo dia é exatamente o mesmo, já diz a música que eu não canso de ouvir. Criam feridas os ouvidos pelas mesmas coisas sempre reeditadas em novos corpos e novas composições. Existe algo que não consigo ver, um caminho perdido entre as gavetas do cérebro, entre as memórias vazias e entre os desejos descarnados.
 

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