quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ausência de si enquanto a noite martelou um novo ferimento

Ele sentia uma ausência enorme em relação a tudo. Pessoas. Carros. Casa. Papéis. Palavras. Linhas. Parecia distanciado de tudo naquele dia,seus olhos ainda um pouco inchados de um sono nauseado. Um sono ausente de sonhos, recheado apenas de implicações práticas e preocupações lógicas. Havia dormido fetal, inseguro, destrinchado. Mentalmente anestesiado. As noites passavam sem ação. Sem surpresa. E ele se via presa de um medo irracional de morrer sozinho aquela noite.
Desejou telefonar, mandar mensagens a alguns amigos e amantes recentes, talvez medir a atenção que receberia. Mas não teve coragem, julgou muito baixo. Mas se sentiu imensamente só. Jogado numa ponte de concreto a 200 m de altura, sem ninguém que pudesse ouvi-lo gritar. Era assim que se sentia. E embora não almejasse pular, sentia uma necessidade intensa de soterrar a retina chão abaixo. Escada abaixo. Senso abaixo. Estava errado? Sentia uma ausência tão grande de si, que nem mesmo conseguia ficar triste por muito tempo, mas mudo. Eternamente mudo. Apático. Esquecido num canto da sala de jantar. Lembrado apenas quando você precisa deslocar um móvel de lugar ou simplesmente passar. Uma cadeira. Um jarro. Uma flor de plástico. Dramático? Essencialmente dramático.
Apenas deitou-se sobre uma labareda de certeza e não se sentiu aquecido. Sentiu-se mais anestesiado. Sem força de cuspir um sarcasmo. Escreveu um diário nas páginas da lista telefônica aquela noite. Mandou tudo as favas. Chances. Incertezas. Dores. Anseios. Só não conseguiu se livrar daquela mania de pensar demais.

Só não conseguiu se livrar daquela ausência e daquela sensação de enterro que florescia nos seus lábios.

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