quinta-feira, 3 de setembro de 2009

C’est tu mon poisson doré

Se houvesse alguém pela qual eu colocaria as mãos no fogo, esse alguém seria você. De todas as pessoas que conheci e amei, só você ainda me surpreende, me entende, me acusa e me faz farra. É a única que quero proteger mesmo sabendo que não é necessário. Mesmo que você cuspa na minha cerveja e eu na sua numa bebedeira. São apenas fluidos corporais, coisas que já dividimos na dor e no prazer. Quando chorei na sua partida, quando gozei no seu corpo sedento. Quando rimos até a hora descansar num lado da cama. Se houvesse alguém que eu poderia confiar um segredo seria você. Se houvesse alguém pela qual eu faria todo o esforço sem querer retorno seria você. É até estranho pensar em todas as bobagens que falamos e fazemos quando juntas, duas crianças mongolóides com assuntos intercalados no mesmo momento, do lixo ao luxo em um segundo ainda é a nossa frase em qualquer estação. Uma parte da minha alegria reservo em saber que você está bem, agora com outro alguém, mas já se passaram tantos “alguéns” por você e por mim que tempo não faz tanta diferença assim. Sempre me perco em romances fadados ao fracasso, gosto do sabor do teatro, da angustia do amor que não se desenrola. Uso essa paleta de recortes e sensações pra moldar os meus trabalhos. Mas você sabe que eu não nasci pra ser de uma pessoa só, por mais que no fundo eu queira, a simples idéia da rotina me entristece e me faz ser um zero a esquerda. Prefiro saborear e rir dos meus erros, ter apenas cenas desconexas no corpo do que um roteiro inteiro previsível e morto. Gosto quando os molotoves estouram na barriga. Do amargo das bebidas pela manhã. De não ter tempo. De estourar prazos. Gosto de ser incondicional quando me convém. E o fato é que eu te amo incondicionalmente em qualquer estação. Coisa meio Rivera e Frida Kahlo. Mesmo que eu não te ame mais do mesmo jeito. Mesmo que eu já não queira domar seu corpo e você não discuta mais os meus defeitos. E sabe o que mais gosto na nossa história? As reviravoltas, as indecências e o conforto. Por mais que eu faça cena, você controla a luz, sabe que é assim que eu lido com tudo, imersa em confusão e em pequenas mentirinhas auto sustentáveis pra fazer uma tela mais bonita. Síndrome de artista. Porque eu posso te falar sobre qualquer coisa pessoal ou extraterrena. E às vezes você não precisa dizer nada, porque eu conheço um pouco do movimento das suas sobrancelhas. Afinal ninguém conhece ninguém direito. E é isso que faz toda relação humana uma delícia: os mistérios.

E mesmo que ninguém entenda os nossos xingamentos e risadas na mesa do bar você sabe que ainda é o peixe dourado no meu aquário. Porque o nosso passado não nos agride, antes nos subverte em novas manhãs para que possamos amar novas pessoas e ainda assim nos mantermos a salvo do tempo.

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