quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Na sombra da Lua um riso escarlate de escárnio surgiu

A confiança pode matar um coração que pena pela delicadeza. Um dejá vu. Parece que alguém já escreveu essa cena. E você sabe o final desse filme, porque todos já viram esse filme na sessão da tarde. Mas esse personagem será o seu? Foi feito pra você? Sofrendo por antecedência pela certeza do ato. Pelo conhecimento dos personagens. Pela certeza do seu próprio corpo e pelas linhas já cansadas da sua mente. Você sabe todas as cenas dessa história. E o melhor seria pular a página e abrir um outro livro. Fincar o pé no imprevisível. Podar o texto dos excessos. Fazer um pequeno comércio e trocar algumas coisas de lugar. Algumas coisas que mofam, que paraliticas não tem onde morrer e fincam pragas dentro do peito, até o momento em que cansado e desesperado o ódio explode dentro da corrente sanguínea. Quando sem perceber as pessoas ficaram distantes e pequenas demais. Parece não haver solução para o soluço que incontido esmurra as paredes da goela. Para o choro que quer arrebentar as córneas. Não há como separar os sentimentos dessa cena, desse conto. Não há como pontuar. Dissimular a sensação viscosa da idiotice batendo na porta da sala com um riso grotesco e cínico pregado na cara. A confiança em algumas pessoas retorna ao movimento amedrontado do útero. A procura de um porto seguro, mas na realidade inexistente. Porque toda e qualquer sensação, pessoa ou sonho vão te decepcionar em algum momento. É um movimento compulsório. Uma maré que arrasta tudo. Draga. Desenterra antigos dissabores e deixa a boca acre pela amanhã, com resquícios de uma noite desprovida de sonhos. Um armário detonado. Gavetas que explodem madrugada adentro criando rusgas, vincos e pústulas antecedentes. Porque existe um faro animal para o perigo. Um gosto absurdo pela dor e acima de tudo uma vista que alcança mais que a capa benevolente da espécie humana. A aparência desprezível dos desabafos sem ouvidos. A claridade da manhã que se aproxima apodrecida, o brinde divergente com a solidão e o desejo arbitrário de ser livre, mesmo não sendo preso a nada.

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