terça-feira, 20 de janeiro de 2009

De quando a borra do café me rendeu uma dor de cabeça enorme e um poema concreto na parede do quarto

Deixa-me tranqüila.
Deixa-me quieta na vaga. Deixa-me vagar.
Devagar subir as escadas.
Divagar sobre todas as ações mundanas.
Dancing in the moonlight
Deixa-me assim meio louca, vagando entre escritos intranqüilos
Deixa-me assim inscrita
Nas linhas terapêuticas de uma manhã sem luxo
Deixa-me ...
Sincera
Ou mentirosa
Descobrir nas minhas dobras
As verdades passageiras
Na
Memória
Destrancar
A rouquidão dos meus gritos
Abafados por travesseiros de papel.
Deixa-me assídua
Freqüentadora de mim
Sentar na primeira cadeira
Ver a première de um filme
Ainda não editado.
Deixa-me assim
Raquítica
Admirando a imensidão do espaço
Deixa-me escolher
Quais serão os próximos passos,
ouço-os na escada, fico esperando o aproximar, mas eles rumam para outra porta. Os dias poderiam ser como longos poemas concretos, assim, desajeitadamente belos. Após uma tarde de contragostos e diálogos insólitos, me recobre uma calma, ainda que em reboliço fique meu coração. Uma pequena conversa ao acaso, aliviou-me um pouco a tensão. Depois de alguns subterfúgios, o diálogo que renova as gotas de saliva, porque eu ainda não consigo dizer “help me” com naturalidade, ainda peço que me adivinhem as chagas. Mas pelo menos, já divido, não engulo.
E ás vezes até cuspo de modo suave,embora ainda me subam lágrimas tremidas nos timbres da voz.
Eu poderia obrigar à todos a aceitar meu mundo. Minha pequena república de humor palestino e de memória descartável, mas seria abusivo. E a menos, que todos fossem seres compreensivos seria uma guerra contra mim. E já me bastam minhas pequenas guerras. Tenho notado as oscilações do meu humor. As oscilações do meu amor e de tudo que está ao meu redor. A única coisa constante é uma charmosa melancolia a la Ian Curtis (que depois se torna irritante e depois volta a ser doce). Eu poderia provar todas as minhas teorias insanas a cerca da humanidade e das condições humanas, mas seria um desperdício de palavras. Aquela frase ainda é a razão de tentar não levar nada muito a sério, nenhuma pessoa, nem mesmo a mim. Misturar em doses parciais a descrença quase completa e a sensibilidade do meu gênio. Tarefa pouco divertida, é como preparar uma bomba, que pode explodir e te decepar a mão. E eu gosto das minhas mãos.
Tenho a sensação que algo vai explodir na minha cara. E não é a minha pistola, ela está tão quieta, dentro do coldre adormecida. Nem mesmo tenho cara mais de alvo, não muito pelo menos. A primeira semana efetiva do ano continua como se fosse do ano anterior, os dias tem passado um tanto revoltos, mas ainda assim calmos. Mesmo que dentro aja um emaranhado de sensações e já algumas pequenas decepções e já algumas pequenas alegrias secretas. Mesmo na primeira semana efetiva do ano isso já ocorre. É um prenuncio de caos por aqui, mas sempre ou quase sempre após o caos vem o silêncio cansado. Me deixo assim amanhecida
Me deixo assim anestesiada pelos pensamentos
Pequenas palavras sólidas
Criando formas insólitas
Me deixo assim num passado
De centímetros de distância
Deixo-me assim
Sem pretexto
Para um novo texto
Deixo a página em branco
Decidir pela morte ou pela inércia
Deixo-me caída sobre a cadeira
Observando o passar dos carros
Olhos de cachorro
À tudo seguindo.
Intränquilamente
Deixo-me inscrita
Entre pilhas amórficas de papel
Presentes de um dia exausto
Deixo-me
Deixa-me
Deitada no ombro do tempo
Brincando de dar nós em ponteiros
Deixa-me tranqüila.

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