segunda-feira, 5 de janeiro de 2009


Uma e quarenta e três da manhã de quinta feira

Poderia ser mais cedo ou mais tarde. As coisas se empilham sobre a mesa, trabalho, trabalho, trabalho. Olho, mas não vejo. Prefiro passar o tempo corroendo minhas feridas e brincando de deus com as formigas. A essa hora da madrugada a pessoa deveria ter um pouco de raciocínio. Um pouco de razão, mas por alguma disfunção eu só tenho loucura acentuada. Tudo em mim parece ser meio exagerado. Meio aturdido por uma onda de borboletas eufóricas que ficam passeando entre uma personalidade e outra, entre o autor e suas crias. É assim que me sinto. Aturdida pelas minhas personagens, que ficam passeando pelas paredes do meu quarto, dançando no meio do meu prato na hora do almoço, aparecendo e desaparecendo nos azulejos do banheiro. Falando o tempo todo pelos meus dedos aquelas coisas que a minha boca muito sociável prefere relevar. É como se eu saísse do controle do meu set e visse as personagens no comando, reagindo aos meus vazios, aos meus estímulos animais, as minhas magoas irracionais. Elas riem dos buracos que abro em minhas paredes. Não há razão para buracos, assim como não há razões para canções defuntas a essa hora da madrugada. Mas é assim que funciona a minha maquina. É assim que as manhãs recriam a minha face. Porque de cada noite de sono e sonho eu acordo menos proprietária e mais locatária da minha razão. Desse espaço flácido que eu chamo de corpo. Dessa pistola engatilhada e gasta que eu chamo de meu coração. Mas sempre há espaço pra mais uma bala, mais uma ferida. Mais uma paixão. Nós somos o amor já dizia o poeta. E por conseqüência, somos a dor, a espera e a coleira, isso ele não disse. E se disse deixou bem escondido nas entrelinhas. Boa noite alma minha. Cansei de vasculhar-te. De chafurdar na sua amarelada solidão. Fecho a porta e eis me em vão num sono alheio a tudo.

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