terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quando há um filme noir rodando dentro do pote de aspirinas

Inverto os papeis por um instante. Conspiro dentro de uma personagem. Imagino que o criminoso se esgueira pra fora do meu corpo e observa pacientemente sua vitima. Inverto os sabores do sorvete, primeiro flocos, depois o chocolate e por baixo de tudo a cobertura. Isso não é uma prosa de amor. Nunca teve haver com amor. Eu tenho medo de atravessar a rua. O criminoso vil continua a espreita. Comi mais chocolates do que deveria. Tenho medo de virar uma bola de futebol. Metamorfose imperceptível das sensações. Fujo dos assuntos com o mesmo delírio que entro na sala de estar e conto historias a estranhos sobre discos voadores e musicas excepcionais. Tenho medo de baratas, principalmente das voadoras. Tenho medo de tanta coisa,que chega a ser surpreendente que eu consiga respirar por que as vezes quando me precipito com muita força dentro de mim é como se eu não conseguisse respirar e as palavras vão saindo e eu não sei o que há de errado com tudo isso mas mesmo com dor continuo repetindo os meus versos assim sem parar sem respirar me causando dores na coluna e calombos nas cordas vocais eu nem sequer penso pra falar eu simplesmente abro a boca e as palavras saem até que uma forte dor nas costas me obriga a corrigir a posição das mãos e a...e....a pensar um pouco mais. É como se a razão voltasse sem aviso. E as musicas ficassem mais compassadas. Como se as coisas estabelecessem sua ordem corriqueira e correta. Mas quando isso acontece? Quando não há ninguém por perto. Eu só consigo refletir, parar, silenciar quando não há ninguém pra quem eu tenha que montar uma personagem, um novo rosto, um novo posto, um amarfanhado particular de palavras sem sentido. Nessas horas indevidas eu apenas faço. Não penso. Eu saio. E vejo a merda toda de fora. Eu não tenho tanto controle quando imagino, ou então tenho menos descontrole do que gostaria. Eu não sei bem dizer qual é a proporção. Sequer se ela existe. Tenho medo de mim. E quando a coluna dói sinto a pistola tocando fundo na minha fronte. Ardendo quase. Sinto que perderei a hora mais uma vez, não por um desaviso,mas por simples e claro descaso. Eu nem sequer me afasto e já dou espaço pros traiçoeiros cacoetes da minha vida conjugal. Me traio e fujo. Me escondo dentro de uma gaveta e observo o investigador morder as tampas das canetas num claro sinal de raiva. Vejo suas mãos depositadas dentro dos bolsos velhos e gastos. Sinto o cheiro do seu perfume barato. E o vejo dobrar a rua em sentido contrario ao bandido. A mim. A nós. Ela sabe. Você sabe, todas as coisas que coabitam a minha zona interior sabem que ele é corrupto. Que ele foi pago pra passear sem ver. Ele apenas cumpre o papel formal que lhe deram. Sairei impune mais uma vez, mas com certeza não ilesa. Odeia minha própria metodologia. E minha certeza total e irrestrita. E o pior de tudo: estou sempre absurdamente certa sobre os absurdos que desenho.

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