segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Quando o motor ronca distante

Vou te dar uma letra de presente. K. essa será a sua letra. Fico pensando em você, em como é estúpida e incontrolável essa sensação que me derrota. Fico imaginando as razões pelas quais as pessoas estabelecem algum tipo de relação nesse mundo e não chego a conclusão alguma. É pelo tamanho da cabeça? Pelas palavras? Pelo cabelo? Por que raios você começa a conversar com alguém e de repente vocês estão tão íntimos e tão próximos como se tivessem nascido do mesmo ovulo? Queria uma explicação. Sempre quero uma. Mas pra você eu não achei. Não achei pra nada na verdade. Mas você é um mistério. Calada. Mas com um riso lindo, um jeito carinhoso dentro de uma casca de ferro. Preferia que nunca tivesse me mostrado como é ai dentro. Preferia ver de fora, como todo mundo e não ter me acostumado a ter K. seria mais fácil ter o que você dá a todos. Mas você tinha que dar algo mais pra mim não é? Justo a mim, que sou tão imaginativa, tão solta pra ver pessoas em canções, lugares e azulejos de cozinha. Em como meu corpo começou a pedir, despir o seu. E justo eu, que nem tinha dado por sua existência até um dia qualquer desses. Que por um motivo qualquer você resolveu me dirigir algumas palavras, um sorriso e um certa doçura. E eu que disse ao Danilo, que você não fazia meu tipo, que isso,que aquilo, em dois tempos me vi perdida. Encostada no seu ombro, deleitada no seu carinho, no seu querer, na sua pornografia. Em dois tempos você me colocou no bolso. Tinha as chaves do meu corpo e poderia abri-lo e vasculhá-lo a vontade sem aviso. Mas do mesmo jeito que você me colocou no bolso, me jogou junto com a nota do mercado fora. Amassadinha e pequena. Ai eu corri. Eu tentei entender. Eu tentei afogar, sufocar, anestesiar. Mas Huxley e os carros do Danilo me fizeram ver que eu só ia plantar indiferença. Pois é, hoje eu só ouvi o ronco da sua moto indo embora. E eu não vi seu rosto. E a verdade é que eu enfiei minhas palavras pela cabeça adentro e fiquei escrevendo na droga do meu caderno surrado de nomes como eu sentia sua falta. Mas nem eu sei como eu sinto. Que falta é essa. Você era o cérebro que eu precisava pra funcionar. A alavanca pra me colocar na estrada de novo. Sei lá eu preciso dar um jeito de penhorar essa pistola que fica pulsando aqui dentro. Antes que eu dobre a curva ou que more indefinidamente na casa da minha mãe e comece a usar suéteres verdes e tenha cabelos compridos novamente.

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