segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Resposta de um escritor à um leitor do jornal de domingo

Você me sonha, em tudo que escreve me imagina nas entrelinhas. E mesmo assim me quer longe como um pássaro no inverno. O seu par não sabe dançar? Que culpa tenho eu? Tudo que faço é livremente inspirado em fatos reais, que culpa eu tenho da vida ser uma merda? Seu par é alérgico a amendoim? Que culpa tenho eu se você adora? Só não me venha aporrinhar, com cartas descompostas. Não me venha fazer círculos nas palavras do meu texto, achando que realmente penso em demarcar os erros. Eu nem mesmo ligo. Se puder fazer o que quiser longe das minhas folhas, faça. Mas não me venha circular as entrelinhas na busca de uma mensagem oculta. Está tudo aí estampado como morte no jornal de domingo. Do modo mais claro e melodramático possível. Não tenho culpa das suas guerras interiores e exteriores, não conheço o seu terreno nem seu corpo diplomático. Então, não me venha com sobrolho torcido pra tudo que eu faço. Não venha fazer rinha no meu espaço. Se ponho nas letras uma leve decadência, pensa que eu te recrimino, se ponho tristeza é porque te reanimo, se ponho alegria fraca é porque você perdeu uma peça no imenso jogo que se propôs. Que culpa tenho eu do que te aconteceu ontem agora ou depois? As favas. Se a numerologia previu que meu nome é maldito, tente o pseudônimo. Se este também for vá as favas com a sua ciência e me deixe aqui com meus nomes arredios. Ponho créditos maldosos pra você se machucar, se caiu na isca, não tenho culpa da sua ingenuidade. E nem eu da minha habilidade de fazer armadilhas pra passarinhos desatentos. Você me quer longe dos suportes, dos postes, das casas que tenham a sua marca. Então mije por cima do que é seu, talvez assim eu não me aproxime. A não ser que eu carregue desinfetante comigo. E sou bem cretino pra fazer isso. E só de birra, pra te irritar, escrever sobre a sua urina que eu mandei um oi, um beijo e um tudo bem pra família. Que acha? Mije sobre tudo que é seu, pense mesmo sobre isso, erga sua perninha sobre os livros, mulheres, espaços, sites e flores. Faça uma redoma de mijo. Um mundo todo seu. Seu, até que a vigilância sanitária apareça pra te aplicar uma multa.
Você me sonha, parece até piada. Mas você deve sonhar que eu te escrevo tudo. Que é pra você que eu ponho letras num papel ou num outro suporte. Mas francamente, eu não sei seu nome, e nem quero saber. Eu não sei seu endereço, seu telefone e nem quero saber. Eu quero mais é que minhas letras abram um corte na sua cara e te deixem assim mais tranqüilo, se quiser até te passo um telefone de casa de sadomasoquismo. Talvez assim você aproveite melhor seu tempo, do que vir aqui me torrar os nervos, que nem pele tem mais de tão aflorados. Determinados leitores deviam brincar de forca e perder.

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