quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Para rir, parir, tá tudo ali embolado na gramática noturna

E você nunca vai saber o quanto isso dói em mim. E sabe porque? Porque eu rio! Isso mesmo porque eu rio. De tudo. Da dor. Do amor. Dos vermes de banheiro que nascem do meu desleixo. Eu rio de tudo. E contento o mundo com um rosto largo. Atrás das bobagens e das lascivas palavras não se pode ver o choro. As emoções rasgadas como pacotes de bolacha. Devoradas por renúncias, dúvidas e medos. Não é possível ver através da lona que pintei pra me esconder. E eu pinto bem. Você não desconfia quando me vê passado mostrando uma fileira anêmica de dentes que até mesmo os palhaços riem de agonia, porque como dizem, nem todo riso é de alegria. Pranteio e morro. Peço socorro. Mas você, nem ninguém pode me atender, porque vocês não podem ver. São cegos. E eu brinco de cabra-cega com vocês. Aceito todas as culpas,aceito todos os vermes, todas as desculpas, me nego a dizer o quanto me dói. Sorrio, e digo apenas “deixa pra lá”, quando o que eu queria mesmo é dizer “ deixa eu te enfiar a cara naquela privada ali?” mas eu sou besta. Eu sou risonha. Não me levem a sério. Eu sou louca, e uma mulher louca não tem argumentos válidos para nada, nem para escolher a cor das cortinas da sala. Nem para parir filhos, nem para dar o cú. Uma mulher louca não tem crédito nem com Deus, se este existisse. Nem com a vendinha ali da esquina. Mas eu não sou louca. Vocês acham que eu dou brechas pra insanidade, mas não é verdade. Eu brinco com ela, tanto quanto brinco com vocês. Eu teço verbos irregulares, deixo minha imaginação dominar os espaços, tenho espasmos pela manhã e acho normal. É como fazer abdominal com a cabeça. Vocês me dão as costas, me deixam falando com as paredes, porque eu sou interna. Eu gosto de olhar pras minhas entranhas e acariciá-las. Gosto mesmo de cuidar de mim. Da minha beleza interior. Eu não sou louca, eu babo nos travesseiros de propósito, gosto do cheiro acre da minha baba, tanto quanto da minha urina. E eu gosto de pintar desenhos nas paredes com sangue de menstruação. É boa tinta, não descora. É um vermelho vivo, mais vivo do que o olho da gente quando caí xampu. Estranho? Talvez, mas é explicável, como tudo no mundo. E eu adoro sentir o vento que bate pela janela lateral do quarto à noitinha. É bom pra dormir.
Você nunca imagina nada disso quando me vê passado com meias coloridas e sorriso pregado na cara. Nem imagina o tanto de pregos que gasto pela manhã para mantê-lo por todo dia assim.

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