sábado, 17 de janeiro de 2009

Quando até coveiros aprendem a sorrir

Não me passou pela cabeça que seria assim. Fiquei tanto tempo sonhando, que quando resolvi abrir os olhos todos olhavam pra mim. As chances estavam ali na ponta dos meus dedos dos pés, mas eu nem havia reparado. E agora que já não há tanto espaço, eu quero respirar.


Mas eu gosto de coisas improváveis. Fiquei imaginando o que seria a perfeição, relendo escritos antigos,imaginei se havia melhorado ou não. Acho que sim, pareço menos homicida, menos pessimista. Mas talvez seja a minha imaginação.


Ela andava por uma rua sem placa, o dia era calmo, e o vento soprava de encontro ao seu rosto conversas alheias e trechos de música. O que havia em seus pensamentos era o amor, e não havia outro assunto, porque sua genética foi concebida para o amor e não o saberia fazê-lo sem ser a uma mulher. Seus dias passavam assim como dedos passam em paredes velhas, deixando atrás de si pequenos pedaços de reboco opaco. Suas mãos tinham cal e um leve toque de velharia, tudo que exalava perfume ou histórias lhe interessava. E ela andava por aquela rua sem precisar de um destino. Deixou atrás de si um amontoado de passos, e fez das lágrimas um cantil de sonhos. CAda dia que passará hibernando, tendo apenas a tristeza como prato do dia ficou para trás, assim como o reboco, a noite e as folhas de papel.


O que era a perfeição? Nos seus olhos não encontraria resposta para tal questão. E essa era a grande graça do seu riso. Havia um Neruda entre seus dentes escondido e não saber onde suas pernas a levariam era a perfeição do dia. Cansou de escrever roteiros, planos, listas intermináveis que sabia que não cumpriria. Era desperdicio de tempo, árvores e carinhos. Quantos beijos sonhados foram desperdiçados em poemas sem fim? Poemas não possuiam boca nem a textura da saliva, que poderia eles então fazer por ela?


Nada. Andava a esmo, algumas fotos em preto e branco. Uma garota linda do outro lado da rua. Um olhar trocado, um pequeno flerte, uma diversão pra alma. Gostava do sorriso tempestuoso. Alguns de seus amigos, diziam que o bom mesmo era ter alguém para a eternidade. Mas ela sabe que não nasceu pra isso. A eternidade tem prazo de validade. É como uma taça de vinho, um orgasmo, não é pra sempre, mas é igualmente doce e bom. Ela é relativa. Cansada de eternidades,mas e daí? Sempre a espaço pra mais um talvez, uma eternidade impensada. Eu ainda passaria alguns anos da minha vida com você, outros anos com ela. E outros anos com algum outro alguém. O maior número de pessoas para receber meu coração. O maior número para fazê-lo sumir.


Eu tenho um dom, isso eu sei. Funciono como um filtro, que retém tudo que é desgosto e desatino, deixo quem me ama mais densa ou mais liquída, mais pronta para o que ela quiser fazer. Mas isso me impede de ter uma felicidade normal. Aquela, com cachorro, dias juntas vendo Tv e casa na praia aos domingos. Eu poderia passar meus dias remoendo tudo isso, como vidro, mas prefiro dividir até desintegrar.


Que sejam felizes todos os que puderem ser. Os que não puderem um dia vão tirar a venda dos olhos, por que afinal de contas, nunca é tarde demais. E hoje eu acordei paciente, desmembrada e descumpridora das minhas promessas. É um bom dia para errar.

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