terça-feira, 6 de janeiro de 2009


Quando o motor ronca distante parte II
Fade in
Exterior. Noite
Uma moto sai rapidamente carregando um coração até que esse se despedace no asfalto e fique um rastro vermelho no asfalto. A mulher em cima da moto ouve Ravel. Ela ri. Para. Poe o capacete e acelera. O rastro fica cada vez mais claro até que desaparece.
Interior. Noite
Homem de olhar fixo numa parede branca. As pessoas param a sua frente, falam com ele. Mas ele não responde, continua sentado, rabiscando palavras ao acaso num caderno velho enquanto seus olhos continuam fixos na parede branca. Em alguns momentos abaixa os olhos para ver o que escreve. Um nome. Uma frase. Lê. E rabisca por cima cobrindo por completo as frases. Meneia o pescoço. Procura alguma coisa vagamente pela sala. Vê alguns rostos. De repente um ronco baixo de uma motor. Ele aguça os ouvidos. Vemos o coração do homem ser arrancado e arrastado em direção a porta de saída. Ele não sabe se ri ou chora. Pensa em ir atrás. Se levanta. Mas volta para a cadeira e continua a fazer anotações e olhar fixamente para a parede branca.
Fade out.
Até mesmo num roteiro fantástico fica difícil explicar a sensação que me dá quando alguém resolve ir embora. Sempre fica aquela vontade de perguntar porque, de tentar remediar, de fazê-la ficar. Mas isso só vai piorar tudo. Chega um momento em que as palavras são meras idiotas dançando em frente a sua boca. Elas mais tiram sarro de você do que ajudam. É nessas horas que eu me vejo como uma mera aspirante a cineasta ainda. Não consigo fazer algo tão simples como conversar com alguém, como resolver um problema a dois, que só piorou por excesso de dialogo. A boca é um vicio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário