segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Mobília

Ela nem sequer olhou. Conversou com quarenta e oito pessoas e não olhou. Seu perfume passava daqui pra lá. E podia ouvir sua risada, sua entonação tão especifica. E ela não olhou. Nem sequer gaguejou um olhar na direção daquela cadeira de madeira, que esta noite parecia mais pesada e mais velha do que de costume. Talvez, e só talvez, devido ao corpo que estava sentado sobre ela. Tão arraigado e triste. O ar ao redor daquela cadeira era pesado. E o corpo postado sobre ela era temeroso. Ao menor som da sua voz endurecia, lutando para desviar o olhar. Antes, para não olhar. Esquiva, esguia, habituada agora a desaparecer do seu parco campo de visão. Pobre cadeira, terá de se contentar com aquilo, com apenas ver delineada sobre o chão a sombra que tanto gostava e depositado em outros o carinho que antes lhe era destinado. Nada a declarar. Era apenas uma cadeira e sobre si um corpo inerte. Desocupado de alma. Tão vazio e especialmente perdido nessa noite. A boca quase um grosseiro corte por onde palavras pesadas e sentenciais despencavam até quebrarem no chão, pois não tinham força suficiente para alcançar os ouvidos desejados. Tantas palavras neles foram despejados que agora estão selado. Tanto escoou que agora já não faz diferença.

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