quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Na ponte do tempo um transeunte se jogou sem o RG

Ficou um vazio. Depois de todas as coisas pensadas, ficou um vazio. Os problemas são os mesmos, mas parecem agora mais pesados, como se tomados de uma nova proposta ou antes armados para um débil fim. Há uma preguiça em mim para solucionar os problemas a minha volta, eles já me mostraram seus rostos, me deram seus endereços, sei até, de suas árvores genealógicas. Mas de um modo geral, tenho preguiça de dar-lhes cabo. Uma piedade tola e acomodada.
Acordei com uma inquietação. Uma vontade de virar as coisas do avesso, tirar o pó dos móveis, um pouco diferente da anterior, que se resumia a quebrar objetos e sair de casa para beber ou falar sem parar. A minha logística está um pouco deprimida, não tem sido utilizada. Há pontos dispersos, pontas soltas, línguas soltas, trapos acumulados nos cantos dos meus pensamentos. E há idéias pela metade.
Num instante paro pra pensar, mas realmente pensar, não fingir. Voltar ao zero. A estaca zero de tudo, tenho tempo pra isso, pelo menos até agora. Ainda dá tempo de pegar aquele ônibus? Se eu correr creio que sim. Esse é um processo que tem me custado muita imaginação. Pegar o ônibus. Pra conseguir pagar minha passagem com dinheiro. Pra ter as coisas que dentro da minha cabeça estão tão solidas. Pra ter. pra ser. Quero colocar um ponto final nessas histórias inacabadas, dar o acabamento no que falta. Non, je ne regrete rien ecoando na minha cabeça, mas não cantada pra ninguém, apenas para mim. Apenas para mim. As utopias infelizmente só dão certo nos livros, vide o socialismo de Lênin. Chega de parar o tempo todo para pensar. as histórias ficam se repetindo, e essa repetição tem mais malefícios do que eu poderia imaginar.
Ficou um vazio, mas dessa vez eu não acho ruim, porque depois de jogar tudo fora eu tenho tempo e espaço pra refazer as paredes, a decoração. é tarde, a noite caí lá fora. Está tão gostosa para beber. Beber a noite, extasiar de estrelas, ficar divagando num mesa de madeira, não preciso de nada alcoólico hoje. Na verdade, todas as outras coisas podem esperar. Haverá tempo para aceitar outros convites, mas hoje não. Não posso continuar saindo com aquilo que não me pertence. Não consigo mais parecer aquilo que eu não sou. Os reflexos que tenho visto de mim, me dão outros nomes. Eu grito, mas eles não atendem. Não respondem, atendem por nomes que não conheço. Então, se não me atendem e não querem ter prosa comigo, o que posso fazer além de deixá-los ir seja lá pra onde? Dou as costas, o ponto de ônibus fica do outro lado da rua. E acredite, ela parece bem distante, mas já esteve mais. Passos lentos. Passos lentos, como uma canção, um solo de violino que exige paciência de quem ouve. Paciência...algo que tenho que saber onde comprar ou se existe um workshop sobre o assunto.
No alto, na ponte entre o céu e a terra reside um silêncio, que do alto da ponte, bem na curva, acende um cigarro e contempla algumas palavras e alguns passos dados para uma direção qualquer. Uma sineta de estrelas soa, acendendo o calor da noite. O vento sopra balançando os cabelos e os corpos de todas as coisas sobre a terra, abaixo e acima dela. E assim, todas as criaturas pressentem que algo de intrigante, ainda sem forma, sem distinção de benévolo ou malévolo se aproxima, como uma nuvem bem nas laterais da lua.
E todas as coisas narradas num livro nem sempre são sensíveis, verossímeis ou didáticas. E todos os escritores no fundo se assemelham a silêncios sobre pontes imaginárias e uma hora ou outra eles se suicidam, se precipitam na realidade por um motivo qualquer. Às vezes voltam, noutras se perdem.
Será que eu consigo ainda pegar aquele ônibus?

2 comentários:

  1. Ótimo =)
    Entra/escreve tbm no Puetas, tem bastante gente escrevente por lá... rs

    http://oversoquebrado.ning.com/profile/DiegoRamirez

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  2. mew esse titulo desse post é um arraso fikei rindo horas com ele rs bjs

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